1. |
Introdução
02:25
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2. |
A Um Negrilho
05:22
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A Um Negrilho
Na terra onde nasci há um só poeta.
Os meus versos são folhas seus ramos.
Quando chego de longe e conversamos,
É ele que me revela o mundo visitado.
Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada.
E a luz do sol aceso ou apagado
É nos seus olhos que se vê pousada.
Esse poeta és tu, mestre da inquietação
Serena!
Tu, imortal avena
Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
Redil de estrelas ao luar maninho.
Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!
in Diário VII, 1956
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3. |
Instrução primária
04:04
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Instrução Primária
Não saibas: imagina...
Deixa falar o mestre, e devaneia...
A velhice é que sabe, é apenas sabe
Que o mar não cabe
Na poça que a inocência abre na areia.
Sonha!
Inventa um alfabeto
De ilusões...
Um á-bê-cê secreto
Que soletres à margem das lições...
Voa pela janela
De encontro a qualquer sol que te sorria!
Asas? Não são precisas:
Vais ao colo das brisas,
Aias da fantasia...
in Diário IX, 1964
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4. |
Viagem
04:21
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Viagem
Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos.)
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.
in Câmara Ardente, 1962
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5. |
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Coroai-me de Espinhos...
Lírios, já não, que me parecem luzes
De luto.
Rosas, pior, que são a burguesia
Das flores
No apogeu.
Tojos arnais, apenas.
Cilícios vegetais
Sobre a fonte de quem
Tem nojo das carícias do presente.
Tojos arnais, até que possa alguém
Ser poeta e ser gente.
Miguel Torga in Cântico do Homem, 1950
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6. |
Dies Irae
04:17
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Dies Irae
Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.
Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.
Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.
Oh! maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas,
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!
in Cântico do Homem, 1950
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7. |
Frustração
04:53
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Frustração
Foi bonito
O meu sonho de amor.
Floriram em redor
Todos os campos em pousio.
Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
Lavado e promissor.
Só que não houve frutos
Dessa primavera
A vida disse que era
Tarde demais.
E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais.
in Diário XV, 1990
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8. |
Êxtase
04:18
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Êxtase
Terra, minha medida!
Com que ternura te encontro
Sempre inteira nos sentidos,
Sempre redonda nos olhos,
Sempre segura nos pés,
Sempre a cheirar a fermento!
Terra amada!
Em qualquer sítio e momento,
Enrugada ou descampada,
Nunca te desconheci!
Berço do meu sofrimento,
Cabes em mim, e eu em ti!
in Diário XI, 1973
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Lavoisier Lisbon, Portugal
In Nature, there are no losses; there is no creation, only transformations…” Lavoisier.
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